A China está se preparando para lançar um ambicioso plano de 15 anos, que vai definir suas diretrizes para determinar os padrões globais da próxima geração de tecnologias. O China Standards 2035 vem sendo planejado há dois anos, e deve ser anunciado em breve.
A medida pode ter implicações abrangentes no poder que Pequim exerce no cenário global em áreas como inteligência artificial, redes de telecomunicações e fluxo de dados – tecnologias essenciais para um futuro mais inteligente e conectado.
O que são padrões e por que eles são importantes?
Os padrões estão por trás de muitas das tecnologias que usamos no dia a dia, como smartphones e plataformas de streaming. Tradicionalmente, as principais empresas de tecnologia norte-americanas e europeias fazem parte do estabelecimento de padrões em vários setores, mas a China tem desempenhado um papel cada vez mais ativo nos últimos anos.
O fundador da Inovasia e especialista em China Felipe Zmoginski explica que o país possui um projeto econômico e de gestão política centralizado, organizado em planos quinquenais, que definem metas de médio e longo prazo. “Há algum tempo, a China criou o Made in China 2025, que determina que, até lá, 70% das exportações chinesas serão concentradas em produtos de alto valor agregado. Desde então, a indústria de produtos de baixa complexidade vem se deslocando para o Sudeste Asiático, e a China tem se concentrado em produtos mais complexos”, explicou ao Whow!.
Agora, a segunda maior economia do mundo procura se tornar líder na definição de padrões tecnológicos. A Huawei, um dos principais players em equipamentos de rede 5G, tem se destacado. “Provavelmente, esta é a primeira vez,, desde o pós-guerra, que os EUA não lideram o desenvolvimento de novas tecnologias no mundo. Existe um processo mais solidificado, há pelo menos uma década, da China puxando esses padrões globais”, disse Felipe.
Segundo ele, a disputa pela definição dos novos padrões de 5G representa uma espécie de nova etapa da Revolução Industrial, e a nação que estiver à frente dessa tecnologia será mais próspera, com maior projeção política e economia fortalecida.
“A UIT [União Internacional de Telecomunicações] estima que, até 2029, quem controlar o maior número de patentes de tecnologia 5G deve gerar mais de US$ 1 trilhão em royalties. Ou seja, isso envolve dinheiro, poder e a geração de muitos empregos qualificados no país que dominar a geração de padrões globais.”
Felipe Zmoginski, fundador da Inovasia

Foto ilustrativa Wei Zhu (Pixabay)
A emergência da China e os desafios
A China divulgou, em março, um documento que trazia os principais pontos do trabalho nacional de padronização a serem adotados em 2020, e que pode dar uma visão do que será encontrado no projeto final do China Standards 2035.
Entre os tópicos previstos no plano de março, estavam um esforço para melhorar padrões no mercado interno de vários setores e a necessidade de uma nova geração de sistemas de tecnologia da informação e biotecnologia, com foco no desenvolvimento de padrões para inteligência artificial, internet das coisas, computação em nuvem, big data e, é claro, conectividade 5G.
O documento também enfatiza a necessidade da China participar da formulação de padrões internacionais, apresentando mais propostas nesse sentido. Felipe apontou que o desenvolvimento de novas tecnologias e a definição de padrões estão diretamente ligados ao investimento do país em pesquisa e desenvolvimento: “A China é um país que, há mais de três décadas, investe um percentual superior a 2% do seu PIB em P&D. É o país que mais submete pedidos de registro de novas patentes.”
De acordo com o especialista, no entanto, as empresas do Vale do Silício, nos Estados Unidos, ainda têm vantagens fortes em relação à China, como o fato de estarem situadas em um país reconhecidamente democrático e com uma população multicultural, o que favorece o desenvolvimento de produtos globais. Outra fragilidade chinesa, segundo ele, é a falta de investimento em marketing para construção de marca, o que faz com que os produtos da China ainda tenham dificuldade de alcançar status semelhante aos dos americanos.
A importância das novas tecnologias e a posição do Brasil
A consolidação de tecnologias como 5G, IoT, computação em nuvem e big data é fundamental para que tenhamos uma vida mais inteligente e prática no futuro, com a ampla utilização de carros autônomos e telemedicina, por exemplo. Para o fundador da Inovasia, as empresas que adotarem essas ferramentas serão inegavelmente mais competitivas e mais capazes de ganhar market share.
Segundo ele, o Brasil possui um ambiente de startups rico e é um país relativamente inserido nesse processo tecnológico, mas ainda possui um grande déficit de desenvolvimento de tecnologia autônoma.
“O Brasil acessa essas novas tecnologias de forma marginal.”
Felipe Zmoginski, fundador da Inovasia
“Me parece que um país do tamanho do nosso poderia ter mais ousadia, pelo menos, para produzir em seu parque interno os equipamentos essenciais para ter uma economia competitiva. Com o tamanho que tem o mercado interno brasileiro, isso é totalmente possível, desde que exista uma política industrial e mais incentivo à ciência e tecnologia”, concluiu.
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