Coluna: O empreendedorismo e o equilibrista
“Os empreendedores precisarão aprender a prática da inovação sistemática”, explica o escritor e professor austríaco Peter Drucker
A canção composta por João Bosco e Aldir Blanc, e interpretada por Elis Regina, me inspira para nomear esse artigo sobre os desafios e os riscos do empreendedorismo. Isso porque, ao se considerar que, no dia a dia, todos nós somos apenas equilibristas que procuram manter as coisas em determinado patamar. Afinal, é uma transversal em todas as definições conhecidas nos últimos anos que “ser empreendedor é estar preparado para assumir riscos, sejam eles sociais, psicológicos ou financeiros”. Ou seja, estamos todos sempre numa corda bamba em algum aspecto.
Voltando para a música, Tom Jobim costumava referir-se às suas criações como “minhas musiquinhas”; e o mestre Vinícius de Moraes se autodenominava “poetinha”. Essas e outras atitudes semelhantes explodiram em minhas reflexões e, diante de posturas extremamente humildes, que partiram de monstros sagrados e reconhecidos mundialmente por suas obras, causa-me tremor imaginar-me diante desse desafio de levar a vocês algumas mensagens traduzidas da nossa experiência construída num período de 23 anos, a frente do tema Empreender e na direção de um habitat de empreendedorismo e inovação chamado CIETEC, na cidade de São Paulo (SP), sob a batuta da USP e IPEN.
Essências para o empreendedorismo
Assim me permito buscar inspiração dizendo que, eu não sei tudo sobre grandes empresas, empreendimentos, inovação e universidades. Ser gestor de ambientes de empreendedorismo “nos conduz a sermos coadjuvantes e verdadeiros partícipes da organização que aprende”, como diz José Alberto Aranha em seu livro Interfaces.
Vale ainda destacar que o nosso universo sobre empreendedorismo está fortemente centrado na experiência das incubadoras de empresas com negócios inovadores. E, também, para levar a você, leitor, uma mensagem sobre resiliência sem transparecer “o professor sabe tudo”. Ao contrário, a humildade e o saber aprender são essenciais para o mundo do empreendedorismo.
Busquei abrigo também no advogado, escritor e poeta mato-grossense Manoel de Barros, que nos deixou em 2014, de quem sou leitor e, principalmente, fã da sua veia humorística. Ele, seriamente, também ensina “que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que ela produz em nós”. Pois, digo a você que o que me move e me mantem feliz é o encantamento que o empreendedorismo provoca em mim.
Ninguém melhor que Peter Drucker, que em seu último livro Inovação e Espírito Empreendedor, de 2008, registrou que empreender não é, necessariamente, prática de alto risco. O autor diz que: “não há justificativas para a crença quase universal que os riscos de empreender e inovar sejam elevados. O que torna a iniciativa, de fato, muito arriscada é não aplicar a ela uma metodologia adequada”.
Drucker explica que os empreendedores precisam conhecer e colocar em prática os princípios da inovação bem sucedida. Em suas palavras “os empreendedores precisarão aprender a prática da inovação sistemática, que consiste na busca deliberada e organizada de mudanças e na análise sistemática das oportunidades que tais mudanças podem oferecer.” Ou seja, o empreendedor deve e precisa assumir riscos, mas riscos calculados que ele acredita que serão superados ou evitados pela sua atuação.
Alguém já nasce empreendedor?
Quando dizemos que os riscos deverão ser evitados pela atuação do empreendedor, esbarramos noutra máxima exaustivamente discutida por todos os estudiosos e curiosos do empreendedorismo: afinal, ser empreendedor faz parte ou não da personalidade do indivíduo?
Já pudemos constatar nas centenas de empreendedores que passaram e que estão conosco que, tem fundamento a ideia defendida há longos anos pelo Babson Colege, e por tantos outros, e aí me incluo, que o empreendedorismo é competência que pode ser ensinada e transmitida pela educação. No dia a dia do ambiente de inovação, denominamos isso como capacitação.
E quando pensamos em capacitação, muitos se perguntam: em qualquer idade? E vamos para outro paradigma do empreendedorismo que questiona a melhor idade para se empreender. Nossa experiência tem demonstrado que não existe idade ideal para empreender e as centenas de empresas que nasceram em nosso ambiente provam isso.
Independentemente das críticas mais recentes sobre o seu currículo, a empreendedora brasileira que foi alvo de muitos holofotes pelo Brasil e Vale do Silício, Bel Pesce relata que o empreendedor encontrará na vida pessoas que tentarão usar vários argumentos para o desencorajar, mas aconselha que para quem realmente sonha em empreender, a sua idade não importa.
Bel, assim como eu, acredita que o que importa é ser extremamente apaixonado por solucionar problemas e melhorar as vidas das pessoas e estar disposto a trabalhar arduamente para fazer acontecer. O que importa é entender que, “às vezes, nem tudo sairá como se espera, mas você deverá estar pronto para aprender e tentar novamente”, diz Pesce.
No Livro “Inovação e Empreendedorismo”, dos Ingleses Jonh Bessant e Joe TID, confirmam que a palavra empreendedor não só deve ser lembrada por sua designação de correr riscos, e muito menos pela capacidade de empresariar, ganhar dinheiro ou tornar-se rico. Para eles, o termo simboliza uma a ação psicológica materializada de concretizar um sonho.
O show tem que continuar
“Diante desta perspectiva reafirmo que, o empreendedorismo é algo que transcende o campo dos negócios e da economia.”
Para finalizar, confesso que a minha experiência com o meio me ensinou maneiras e jeitos diferentes de pensar, reagir e de entender as situações. Na gestão do CIETEC e em outras atividades paralelas, sempre conectadas ao empreendedorismo, com frequência, tenho que abrir mão das minhas suposições comuns e das minhas convicções. Enfim, deixar de lado crenças que tenho e/ou acumulei para ser mais flexível e me adaptar ao novo e desconhecido.
Parafraseando João Bosco e Aldir Blanc, empreender é dançar na corda bamba de sombrinha, e em cada passo dessa linha, devemos buscar apreender com nossos tropeços. Afinal, o sonho de todo empreendedor, tem que que continuar para poder virar a realidade de todos.
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