Coluna: ESG tem se tornado essencial para empresas, investidores e consumidores
O conceito tem ganhado cada vez mais espaço nas discussões de investidores que buscam ativos sustentáveis e responsáveis
*Em colaboração com Fernando A. Beltrame
O planeta não envia e-mail, nem mensagem por WhatsApp e ou participa das redes sociais, mas ele “fala” em todas as línguas e envia muitos recados a nós de que o cenário não anda bem. Excelente se você já está ligado no assunto e está cumprindo com o seu papel. Melhor ainda se estiver contribuindo para que as pessoas a sua volta entendam e também entrem nesse jogo para corrigir essa rota de agressão ao meio ambiente.
E é bem capaz que você já tenha ouvido falar de ESG por aí. O conceito de governança ambiental, social e corporativa vem ganhando espaço nas discussões de investidores que buscam ativos sustentáveis e responsáveis. E tem recebido atenção mundial por estar associada a negócios sólidos, comprometidos com questões ambientais, sociais e com maior resiliência contra riscos associados ao clima e à sustentabilidade.
Desde 1987, o Banco Mundial começou a incorporar políticas ambientais e sociais em suas linhas de financiamento e os temas E, S e G tem ganhado força e relevância no setor financeiro. Nos últimos dois anos a incorporação dos princípios dessa sigla se intensificaram e o principal marco ocorreu em janeiro de 2020, com a carta anual de Larry Fink, presidente da maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock, com quase US$ 7 trilhões de ativos.
A carta informa que o fundo deixará de incluir em suas carteiras empresas que “apresentam um risco alto relacionado à sustentabilidade”, e reforça “risco ao meio ambiente é um investimento de risco”. E Fink conclui: “propósito é a engrenagem para o lucro a longo prazo”.
Transparência, Responsabilidade e Governança
Na pesquisa 2020 Climate Change and Sustainability, realizada pela consultoria EY, 98% dos investidores pesquisados avaliam o tema ESG para tomarem suas decisões, sendo que 72% realizam uma análise estruturada do desempenho ESG. Este é um indicativo que os critérios ESG fornecem informações sobre as empresas, essenciais para a avaliação dos investidores.

Gráfico do estudo “2020 Climate Change and Sustainability” da consultoria EY.
Os critérios Ambientais ajudam o investidor a entender como a empresa está preparada para os riscos relacionados às mudanças climáticas, qual o impacto da sua operação, relacionado ao inventário de gases de efeito estufa e qual a sua dependência e interação com os recursos naturais.
Já os critérios Sociais ajudam o investidor na relação da empresa com os seus stakeholders e aos riscos relacionados a direitos trabalhistas, direitos humanos, comunidade e o público.
E, por fim, os critérios de Governança estão diretamente associados à transparência dos processos, indicadores e procedimentos claros, confiáveis e menos propensos a ceder para corrupção ou coerção.
Qual o papel do consumidor e do empreendedor nesse novo contexto?
Podemos dizer que a intensificação dos riscos e políticas ambientais mais restritivas e a desigualdade social são os principais motivos ou a raiz desta nova forma dos investidores avaliarem as empresas, porém foi o consumidor e a expansão e poder das redes sociais que deram luz e destaque para estas causas globais.
Existem diversas pesquisas sobre o comportamento do consumidor no momento de compra, com uma diferença entre as porcentagens reportadas, mas todos convergem quando o assunto é a alta preocupação do consumidor quanto aos impactos socioambientais dos produtos e compromissos das empresas.
A pesquisa “Vida Saudável e Sustentável 2020: Um Estudo Global de Percepções do Consumidor”, realizada pelo Instituto Akatu e a GlobeScan, sobre as percepções dos consumidores em 27 países, mostra que mais de 70% dos consumidores brasileiros esperam que as empresas não agridam o meio ambiente. E mais de 60% esperam que as empresas estabeleçam metas para tornar o mundo melhor.
Em estudo realizado pela agência de pesquisa norte-americana, Union + Webster, esse movimento de consumo ficou evidente. Em 2019, a pesquisa apontou que 87% da população brasileira prefere comprar produtos e serviços de empresas sustentáveis e 70% dos entrevistados dizem não se importar em pagar até um pouco mais por isso.
Essa tendência mostra o comportamento das pessoas e o papel que elas querem protagonizar na sociedade e no planeta, e isso esbarra em uma das principais perguntas dos investidores das startups e o subconsciente dos empreendedores: “o que o seu negócio irá melhorar na vida das pessoas e no planeta?”.
Startups verde no contexto ESG
Empresas têm buscado formas para atender aos princípios ESG e ao mesmo tempo, empreendedores querem resolver problemas sociais e ambientais. Dessa junção, vemos o surgimento e estabelecimento das startups verdes, ou cleantechs.
Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado no ano passado, destaca que, “a transição para uma economia com zero emissões líquidas de carbono poderia criar 15 milhões de novos empregos na América Latina e no Caribe até 2030”.
As cleantechs podem ser divididas em oito categorias: energia limpa, armazenamento de energia, eficiência, transporte, ar e meio ambiente, indústria limpa, água e agricultura, sendo a maioria focada em energia limpa.
No Cietec o número de startups verdes e atentas aos princípios ESG vem crescendo nesses últimos anos.
Dentre as iniciativas conectadas às demandas das empresas e pressões ambientais, podemos destacar:
1. Frete CO2 Neutro: ferramenta de marketing e ação ambiental, para quantificar e compensar as emissões de CO2 de entregas de e-commerce e empresas de logística. Essa ferramenta é de fácil integração com as principais plataformas de e-commerce, via API, podendo atender desde pequenos a grandes lojistas;
2. Selo CO2 Neutro: há o engajamento dos consumidores finais, que recebem um relatório personalizado das emissões de CO2 do seu pedido, e informações da compensação de carbono, realizada com o apoio a projetos ambientais brasileiros certificados, de preservação florestal e energia renovável; e
3. BR3 Agrobiotecnologia: em cooperação com a FIOCRUZ e apoio da USP desenvolveu o DengueTech, um biolarvicida, na forma de um pequeno tablete, para ser usado em nossas casas e ambientes de trabalho, de modo a matar a larva do mosquito Aedes em criadouros que não podem ser removidos. Esse biolarvicida é feito de uma bactéria de ocorrência natural, do bem, que e não causa impactos ambientais indesejáveis e permite o uso seguro de inseticida.
A realidade ainda é preocupante
No dia 16 de março foi comemorado o Dia Nacional da Conscientização sobre as mudanças climáticas, e infelizmente temos poucos motivos para comemorar. O planeta tem nos dado sinais de que algo de errado está acontecendo, como, por exemplo, temos verificado mudanças bruscas nas estações do ano, queimadas sem controle, derretimento das geleiras, recorde de aumento da temperatura e pandemias. E isso é realmente preocupante.
O planeta, consumidores e empreendedores têm mostrado para onde devemos caminhar. É papel dos governos e empresas acelerarem e viabilizarem esta mudança, enquanto é possível.
Lembro que não existem receitas ou fórmulas prontas e também nem um único caminho. Cada país, com sua geografia e seus segmentos industriais, terá que se adaptar e acompanhar o que está se fazendo no mundo e com resultados mensurados.
“Você precisa ser um analista e crítico para as situações ESG e ir muito além dos dados.”
*Fernando Beltrame é presidente da Eccaplan Soluções em Sustentabilidade.