Coluna: uma carta de Leonardo da Vinci para nós e pensamento sobre o futuro
Quais seriam os seus conselhos para o encerramento de 2020? Compartilho como imagino que seria uma carta de um dos maiores vetores da inovação
Leonardo da Vinci não foi apenas um grande artista, mas também um dos maiores vetores de inovação do seu tempo. Sua trajetória ilustra o significado original da palavra inovação, do latim “innovationem”, usada pela primeira vez no século XVI para remeter a uma nova ideia, instrumento ou método.
É evidente que para reconhecer a sua relevância, precisamos compreender as suas ideias e explorações como um produto de sua época. Porém, o mais surpreendente sobre ele sempre foi a maneira de ver o mundo ao seu redor. Ele sobreviveu a uma série de surtos da peste bubônica que atingiram Milão entre 1484 e 1485. Essas epidemias inspiraram muitos dos seus desenhos e uma série de conceitos renascentistas sobre a “cidade do futuro”.
Da Vinci deixou além de suas obras icônicas, como a Mona Lisa, A Última Ceia e tantas outras, mais de 7.200 cadernos com anotações (quantidade capaz de gerar inspiração exponencial). Muitas de suas crenças, hábitos e personalidade são apresentadas no livro best-seller de Walter Isaacson, “Leonardo da Vinci”.
Como imaginar o futuro
Ao ler sua biografia, é impossível não imaginar: “O que nos aconselharia Leonardo da Vinci no encerramento de um ano como 2020”?
Compartilho aqui, com a devida dose de licença poética e ficcional, mas baseada em fatos reais, como imagino que seria uma carta de Leonardo para nós. Nela, estão alguns insights produzidos a partir da combinação da leitura desse excelente livro e do poder da minha imaginação.
“Ilustríssimos senhores e senhoras em 2020,
Divido nessa carta alguns pensamentos e experiências pessoais na esperança de que eles lhes sirvam como fechamento próspero desse ano desafiador.
Nos tempos da peste bubônica em Milão, quando um terço da população da cidade morreu, foi também um período complexo para mim. Imagino que 2020 tenha sido um ano e tanto para todos vocês! Mas essa grande crise também me inspirou muito. Desenhei, fiz protótipos e anotações. Coloquei toda a minha energia em pensar o futuro. Pensem o futuro. Acreditem, imaginem e construam o futuro.
E no processo de execução, não se isolem. Troquem suas ideias com amigos e pessoas que se interessam pelo mesmo tema. Colaborem e compartilhem. A obra o “Homem Vitruviano” nunca teria acontecido sem as inspirações e informações que troquei com muitas pessoas ao frequentar um corte renascentista milanês.
Alimentem mais e mais a curiosidade. Observem tudo. Essa fase que estão passando é um portal de grande transformação.
Como sabem, o meu grande fascínio sempre foi sobre o mistério do voo. Foram muitas horas dedicadas obsessivamente a observar o movimento das asas dos pássaros, a diferença entre a velocidade das asas de um pombo e um corvo, ou a estrutura física de um morcego.
Registrem suas observações, seja lá qual for a melhor forma para traduzir essa expressividade: desenhos, música, textos, fotografias, esquemas, mapas mentais, entre tantas possibilidades.
Primeiro, se deem permissão para se entregar à fantasia. Depois, busquem formas de racionalizá-las e executá-las. Eu sempre fui um discípulo da experiência. O olho é o monarca dos sentidos. A observação da vida, não somente os livros, é a melhor maneira para aprender sobre o mundo ao nosso redor.
Os meus muitos desenhos e anotações nunca produziram a máquina voadora que tanto busquei realizar em vida. Não inventei o voo, mas entendi o funcionamento desse processo que é voar e planar.
Não se cobrem tanto. Imagino que todos, nesse momento crítico, estão produzindo o melhor e mais criativo trabalho possível.
Conto-lhes um segredo: enquanto pintava “A Última Ceia”, às vezes ficava por muitos minutos somente observando o florescer da obra. Longos minutos e uma pequena pincelada. Depois, virava as costas e partia. Nos dias e semanas seguintes, dava atenção a outros temas como geometria, arquitetura e anatomia. Para muitos, no palavreado atual que utilizam, eu era um grande procrastinador. Para mim, tratava-se do tempo da maturação.
A criatividade requer tempo para que as ideias dancem e as intuições se solidifiquem.
Sejam um pouco rebeldes. Tentem quebrar algumas regras. Talvez digam que vocês são resmungões ou pouco confiáveis, mas se as regras que buscam quebrar puderem ajudar futuras gerações, eu digo que vale a pena.
Saudações,
Leonardo da Vinci”
O valor da curiosidade
Como aponta o artista Jeff Koons, o valor duradouro de da Vinci não reside apenas em suas obras, mas também no que ele nos ensina hoje: “Ele nos mostra que nossos interesses podem ser vastos e que estamos realmente limitados à nossa própria curiosidade, aos nossos próprios recursos e desejo, paixão pelo conhecimento e se tentarmos buscar informações, tentar encontrar uma maior compreensão, isso nos levará mais longe”, explica.
Uma das grandes glórias de Leonardo da Vinci é não acertar a resposta, mas saber onde a resposta pode estar.
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