Coluna: Qual é o espaço para inovar diante do imprevisto e em meio à competição viral?
O surto do novo coronavírus coloca à prova a capacidade de inovação dos gestores, empreendedores e do mercado. Como inovar neste cenário?
Incerteza, volatilidade, insegurança e pânico disseminado. O surto agora assumido como pandemia do novo coronavírus impôs um desafio considerável que extrapola os diferentes níveis de fragilidade dos sistemas de saúde globais. As consequências para a economia ainda estão sendo medidas e consolidadas. Cadeias produtivas e indústrias inteiras ainda estão avaliando o impacto sobre seus negócios, derivado da mudança forçada de hábitos e atitudes das comunidades e dos consumidores. Por outro lado, empresas de streaming, de higiene, medicamentos, e-commerce e serviços digitais ganham tração justamente pelo fato de que suas ofertas ganham vantagens competitivas nesse momento. Em meio ao frenesi emocional e à justíssima preocupação que consterna executivos e lideranças do mundo inteiro, uma pergunta sobressai: qual é o espaço para inovar nesse cenário?
Claro, em tempos de polarização, vemos polianas e cassandras reivindicando o protagonismo do otimismo ou do caos, conforme o viés que orienta a construção das narrativas nesses tempos digitais. Como manter razoável serenidade, abstrair a influência do tsunami informacional e formar um juízo de valor coerente para empreender ações que podem modificar um negócio para melhor, mesmo em meio ao caos? Essa é uma pergunta valiosa que precisa ocupar um espaço central na agenda e nas estratégias dos executivos. Afinal, a prática e pensamento inovadores podem ajudar empresas a sobreviver e a criarem vantagens competitivas em momentos de grande instabilidade como o atual?
Inovar para gerar novas fontes de receitas
A resposta é sim, e muito além de chavões e frases feitas do tipo que diferencia “aqueles que choram daqueles que vendem lenços”. Diante dos efeitos desproporcionais e imprevistos do “coronavírus”, uma empresa precisa ter um time resiliente, capaz de absorver choques e fazer renúncias e sacrifícios de modo prático e rápido. Não há margem para acomodação ou para esperar que a paisagem fique menos desolada. Observar o portfólio de produtos e serviços e eleger o que pode funcionar como carro-chefe nesse momento, que vá ao encontro das expectativas de consumidores amedrontados e convidados a ficar em casa é outra medida urgente.
Cortar custos para ganhar folga de caixa pode ser importante para resguardar a saúde da empresa caso a crise se prolongue é indicado. Mas criar inovação de valor que possa ser rapidamente escalada para gerar novas fontes de receitas sustentáveis passa a ser missão crítica.
Excesso de conservadorismo pode ser fatal diante de cisnes negros, eventos imprevistos, de consequências excepcionais e imensas e que após um tempo são vistos como possíveis de terem sido evitados (na definição de Nassim Taleb em seu livro clássico “Cisne Negro”). Pode sobretudo, atrofiar a capacidade de execução da empresa e torna-la vulnerável à disrupção promovida por empresas entrantes.
O risco de não inovar é maior do que aquele estabelecido a partir da manutenção e aposta “no que é certo”. Todas as certezas se desmancham diante dos ambientes voláteis e este efeito pode redundar na corrosão acelerada de modelos de negócios longamente estabelecido e até mesmo de novos negócios.
Quick wins
No entanto, o processo de inovação precisa ser seletivo: é necessário priorizar quick wins, ideias, produtos, práticas, modelos que tragam resultados rápidos, que sejam eles mesmos movimentos inesperados capazes de desorientar a concorrência e aumentar o repertório de funis para gerar vendas e valor.
Um bom ponto de partida é identificar pain points, zonas de atrito no relacionamento com o cliente – na jornada transacional, relacional e experiencial – que gerem custos, insatisfação, diminuam a recorrência e a preferência e desaceleram a conversão. Outro ponto de atenção para gerar inovação é se debruçar sobre as informações originadas nas pegadas digitais dos clientes, bem como de suas interações para descobrir quais motivações podem disparar uma nova necessidade.
O fato é que existe espaço de manobra para produzir inovação em meio a cenários de imprevisibilidade. É uma decisão que obriga as lideranças a atuarem com disciplina e frieza, aplicando metodologias ágeis para identificar e focar com precisão onde a inovação realmente pode resultar em quick wins.
Exortação, espírito heroico, destemor não são as melhores características para enfrentar crises e incertezas. É recomendável desenvolver e incorporar capacidade competitiva extrema, e disseminar essa atitude por toda a empresa. A ânsia por competir de forma viral é o melhor combustível para inovar de forma sustentável.
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