As fintechs nasceram para ocupar brechas deixadas pelos grandes bancos. O Brasil tem entre sua população mais pobre um grande número de desbancarizados. Um estudo do IBGE de 2018 apontou que o país conta com 60 milhões de pessoas deixadas do lado de fora da porta-giratória.
Com o aumento do desemprego e com a extinção gradual, mas dolorosa de postos de trabalho, o empreendedorismo por necessidade tem sido uma solução encontrada principalmente por moradores da periferia. O número de empreendedores no Brasil quadruplicou desde 2007, segundo pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), chegando a 52 milhões.
A entrada de tantos empreendedores no mercado intensificou a necessidade por democratização dos serviços bancários para que esses novos trabalhadores por conta própria pudessem pegar empréstimos ou, realizar transações on-line para desenvolver seus novos negócios.
Favela da Maré
A ausência dos bancos tradicionais foi um motivo para a criação do Banco Maré, criado dentro da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, mas que hoje atua em várias comunidades pelo Brasil, oferecendo serviços financeiros, em especial microcrédito para o desenvolvimento de negócios locais e permitindo transferências e pagamentos de conta.
As transações são efetuadas como em outros bancos digitais, via smartphone. A diferença está na aposta no sistema de micro pagamento, ou seja, pequenas transações feitas dentro das comunidades. Nessas transações é possível usar a Palafita, como é chamada a moeda digital do banco.
Em janeiro de 2020, a aceleradora Rede Celer anunciou parceria com o Banco Maré para impulsionar a pulverização da moeda sócio-digital da fintech. A ideia é incluir a moeda em transações realizadas nas maquininhas de cartão.

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Bolsa de Valores da periferia
O consórcio R3, voltado para o desenvolvimento de tecnologia blockchain, também está apostando no desenvolvimento das iniciativas de impacto social.
O grupo quer criar, junto com o Banco Maré, uma bolsa de valores da periferia, chamada previamente de [BVM]12, para permitir que as pessoas com renda mais baixa possam investir suas economias em empreendimentos da própria periferia.
A ideia é criar um ecossistema de inovação onde a atenção do grande capital e da academia não chega, permitindo que a periferia tenha seu próprio capital, suas próprias empresas e consumidores.
Quênia
As periferias pelo mundo também têm suas histórias de empreendedorismo. No Quênia, a fintech M-Pesa, que pertence à plataforma da Safaricom, da Vodafone, empresa britânica de telefonia, também oferece serviços financeiros pelo celular. Inclusive, o programa de renda básica do País, uma espécie de Bolsa Família, é pago aos beneficiários por meio do aplicativo.
A fintech surgiu dentro do Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, em 2007, para oferecer soluções a pessoas excluídas do sistema bancário tradicional. No Quênia, a bancarização nas vilas rurais é quase nula e a distribuição de benefícios estava muito vulnerável à corrupção.
Hoje, o M-Pesa opera em sete países: República Democrática do Congo, Egito, Gana, Quênia, Lesoto, Moçambique e Tanzânia.

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Regiões do Nordeste
De volta ao Brasil, a Avante também apostou em regiões excluídas. Ela atua principalmente em regiões de baixa renda do Nordeste, em estados como Ceará, Maranhão, Paraíba e Pernambuco.
A fintech oferece microcrédito para negócios de empreendedores dessas regiões, a grande maioria vítima do desemprego que persiste. A financeira tem participação da Família Klein, fundadora das Casas Bahia.
Com limite de empréstimo de R$ 35 mil, a startup empresta uma média de R$ 3 mil para cada empreendedor que adere à iniciativa. São pessoas, na maioria, interessadas em construir seus negócios dentro das comunidades onde moram.
O destino principal do dinheiro é para compor o capital de giro, comprar equipamentos e realizar adaptações dos imóveis, que, geralmente, são residências transformadas em negócios. Segundo a fintech, em sete anos de operação, foram emprestados R$ 400 milhões para 56 mil clientes, sendo que 95% deles são informais.
Soluções paliativas?
As soluções criadas pelos moradores de periferias pelo Brasil mostra o poder criativo de quem tenta vencer o desemprego e a precariedade financeira. As histórias de luta em ambientes tão inóspitos são bonitas de serem contadas, mas duras de serem vividas.
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