Até pouco tempo atrás, a internet era usada principalmente como um portal de acesso à informação e ao consumo, mas, hoje, tem passado por uma rápida transformação digital rumo à Internet das Coisas, focada em serviços. O mercado de transporte e logística é um dos que já estão sentindo os impactos dessas novas tecnologias em seu funcionamento. Conhecido por ainda ter processos bastante rudimentares, engessados e onerosos, o setor, agora, começa a experimentar soluções para suas tradicionais dores.
Desafios no transporte 4.0 no Brasil
De acordo com o relatório Panorama Ilos, os custos logísticos correspondem a 12,3% do PIB brasileiro. As dimensões continentais do nosso país, atreladas à cultura da dependência rodoviária (61% de tudo que é produzido no Brasil são escoados pelas estradas, segundo a CNT), são entraves significativos aos processos logísticos. Isso sem falar na falta de segurança nas estradas: somente em 2018, o roubo de cargas causou um prejuízo de quase R$ 2 bilhões, segundo dados da NTC&Logística.
É nesse cenário que estão se desenvolvendo as logtechs, startups focadas em resolver problemas do setor de logística por meio da tecnologia. Essas empresas têm colaborado para a criação de redes de integração de processos logísticos por meio de sistemas interconectados de comunicação, dispositivos inteligentes, rastreadores e até carros autônomos.
A Vuxx, fundada pelo engenheiro naval Felipe Trevisan, usa inteligência artificial para conectar empresas a motoristas de veículos urbanos de carga por meio de um aplicativo. O modelo chamou a atenção de investidores, e no ano passado a empresa recebeu um aporte de US$ 1 milhão para se expandir pelo Brasil.
“Um dos nossos objetivos é criar um sistema de distribuição cargas que seja robusto, automatizado, com comprovantes digitais e rastreamento do motorista, ou seja, capaz de melhorar toda a gestão das entregas e de facilitar a comunicação entre quem recebe a mercadoria, quem contrata o frete e o motorista. A ideia é criar uma relação mais harmônica e transparente na execução do serviço”, disse Trevisan, ao Whow!.
Outro mote da empresa, segundo o CEO, é trabalhar o conceito de redes, desconstruindo o sistema atual em que muitas empresas têm sua própria frota. “Esse modelo é muito ruim, porque tem muito pouca flexibilidade. Por exemplo, em um dia que a empresa tem pico de demanda, ela tem dificuldade de atender; em outro dia que ela tem pouca demanda, a frota fica ociosa. Então a gente imagina que outra forma de colaborar para o mercado de logística é justamente provendo redes mais eficientes e flexíveis para que as empresas ofereçam distribuição de carga” explicou.

Imagem ilustrativa (Freepik)
Logística e Indústria 4.0
A inovação na logística é essencial para que alguns dos principais objetivos da quarta revolução industrial sejam alcançados, como trabalho em rede, descentralização e capacidade em tempo real. O software da Vuxx, por exemplo, permite que os contratantes tenham acesso a informações como complexidade da entrega, roteirização, agendamento e tempo médio usado pelo motorista para a finalização do trabalho. Assim, as empresas podem criar vantagens competitivas significativas reduzindo seus custos e, ao mesmo tempo, aumentando a satisfação do cliente.
“Acredito que a importância dos processos logísticos mais eficientes não está tão ligada a custos, mas sim ao gerenciamento da informação e à satisfação dos clientes. A Vuxx, por exemplo, faz cerca de 40 mil entregas por mês. É impossível não aparecer problemas, mas a diferença está na velocidade com que você consegue identificá-los e resolvê-los”, disse Trevisan.
O CEO da logtech diz que a eficiência de processos padrões, como solicitação, execução e rastreamento, leva à melhoria do atendimento das demandas e eleva o nível dos serviços.
O resultado, segundo ele, já está aparecendo: cada vez mais empresas no Brasil estão dispostas a utilizar a tecnologia para incrementar seus processos logísticos. “O mercado está aceitando muito bem essas novas tecnologias. Não existem mais empresas de transporte, mas empresas de tecnologia que fazem transporte. Acho que todo mundo já notou que isto é essencial”, contou. “Existem empreendedores muito bons no Brasil, temos unicórnios na área de logística, então acho que o mercado está super legal e bem amparado hoje.”
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