“Uma rede 5G não é só para telecomunicações, é também para processamento. Será a primeira vez que a operadora vai ter acapacidade de processar e distribuir aplicações na sua própria rede, isso traz mudanças radicais não só na infraestrutura necessária, mas no papel das teles”, afirma
TELECOM E BANCOS
A implementação do 5G, segundo Uchoa, é o trampolim que ainda falta ao Brasil para a implementação em larga escala de tecnologias que já vêm sendo discutidas há anos, como o iOT e o blockchain. “O 5G permite que tudo que está sendo discutido em tecnologia hoje seja aplicado em larga escala”, afirma.
O executivo da Cisco destaca ainda que, com a nova tecnologia de conexão, domínios e infraestruturas das empresas passarão a ser cada vez mais difícil de separar dos domínios e infraestrutura das teles, o que deve acelerar o desenvolvimento de ecossistemas no País com várias grandes empresas de diferentes setores agindo em integração, fomentando o sistema de startups que circulam na órbita dessas grandes empresas.
Segundo Bourdot, da Claro, a implementação do 5G trará mudanças importantes ao sistema financeiro. “O impacto será muito grande. Hoje, boa parte das operações bancárias já são mobile e a tendência é de crescimento acelerado. Os assistentes financeiros vão precisar cada vez mais oferecer uma experiência melhor ao cliente”, afirma o executivo da Claro.
E, para isso, os bancos vão precisar de uma conexão mais eficiente. Para Bardot, as instituições financeiras devem ser as principais beneficiadas pela capacidade do 5G de criar redes dedicadas com mais facilidade. “Com o 5G, vai haver grande automação da rede”, afirma. “Os chamados slices de rede permitirão aos grandes clientes ter um pedaço da própria rede da operadora. Hoje, constrói-se ‘túneis’ para oferecer redes dedicadas”, afirma.
ECOSSISTEMAS
Marcia Ogawa, líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da Deloitte, aponta que a integração entre bancos e teles é parte do que tem se tornado paradigma da nova economia, com a concorrência sendo praticada entre diferentes redes e não mais entre diferentes empresas. “Havia uma cadeia linear de supply chain e na nova economia passa a ser uma combinação de várias empresas sem hierarquia. Atualmente, a competição é feita entre ecossistemas ou plataformas, isso muda tudo no planejamento estratégico das empresas”, afirma.
Nessa nova lógica, as empresas de telecomunicações têm a possibilidade de ganhar protagonismo em outras áreas, segundo Marcia. “O 5G pode combinar tecnologias e frequências distintas necessárias para diferentes aplicações, como IoT, por exemplo. É o grande pulo do gato. Até então pensávamos as teles apenas com seu chapéu de conectividade, hoje, elas pensam em subir na cadeia de valor”, avalia.
A especialista afirma que, há 10 anos, a Deloitte trabalha com o diálogo entre bancos e teles para que liderem a transformação digital na internet brasileira. “A indústria financeira no Brasil é das mais desenvolvidas do mundo e encontra a possibilidade de continuar na liderança em âmbito global se conseguir criar modelos de negócios inovadores. Sempre desafiamos teles e bancos a fazer negócios conjuntos. E para isso, elas vão precisar das startups, em especial, das fintechs que estão surgindo”, aponta Marcia.