O especialista internacional em cidades inteligentes Dr. Jonathan Reichental concedeu uma entrevista exclusiva ao portal Whow! sobre os elementos determinantes para se construir uma cidade inteligente e os possíveis impactos da pandemia sobre as vidas urbanas.
O pesquisador, que é ex-CIO da cidade de Palo Alto, no estado da Califórnia (EUA), menciona, que, ainda é cedo para compreendermos, em totalidade, as mudanças globais que o vírus irá deixar na sociedade. “Podemos fazer algumas suposições, mas ainda é muito cedo. Se o vírus desaparecer magicamente amanhã, provavelmente vamos voltar para uma vida normal. Mas se ele se estender por mais dois ou três anos, haverá uma transição com mais impactos”, diz o especialista que também lançou recentemente um livro sobre o tema de smart cities.
A aceleração radical da digitalização, contudo, já foi um desses exemplos. “Não apenas nas corporações, mas no contexto das cidades isso também foi muito evidente, porque muitas não estavam em uma posição privilegiada o suficiente para aderir ao home office. Prestei consultoria em um município que sequer tinha laptops no setor governamental, apenas computadores de mesa ― impedindo que as pessoas pudessem aderir ao home office”, conta.
Novos negócios e discussões para cidades inteligentes
Jonathan explica que, com o isolamento social, também houve o aumento das entregas via delivery, que trouxe novos questionamentos aos governantes. “Agora as lideranças governamentais precisam pensar que linhas de ônibus podem estar engarrafadas em meio a caminhões da Amazon, por exemplo, ou sentar para discutir as regulamentações que envolvem os drones de entregas. A pandemia criou novas oportunidades de negócios, mas também novos questionamentos que precisaram ser respondidos com rapidez”.
Esses levantamentos, segundo o pesquisador, evidenciam o despreparo dos governos para situações de imprevisibilidade. “Muito se fala em resiliência urbana, sobre como sobreviver a tornados, terremotos, enchentes, etc. Mas não estamos discutindo o suficiente sobre outras possibilidades, como epidemias virarem pandemias. Tivemos uma prévia disso no atentado das Torres Gêmeas em que, após muitos meses de estudos, um dos principais achados foi sobre o despreparo da prefeitura de Nova Iorque para lidar com o ocorrido que indicava puramente falta de imaginação”, diz.
Para o especialista, os governantes precisam desenvolver a habilidade de simplesmente pensar que todo tipo de cenário pode acontecer. “Precisamos ser mais imaginativos sobre o futuro. Se fomos capazes de imaginar e criar carros voadores, também podemos conseguir elaborar melhor o que pode acontecer no futuro”, sugere.
O poder inovador da educação
E o que é preciso para os líderes de cidades desenvolverem um mindset inovador?
Jonathan explica que, embora o acesso à tecnologia ajude, é preciso que haja capacitação a respeito de inovação. “Os governos precisam pensar no lado humano da liderança também. Para isso, é preciso que sejam educados a respeito ― e é por isso que eu faço o que faço: dou palestras, consultorias e escrevo livros sobre o assunto. Se eles não entenderem esses tópicos e suas consequências, nunca haverá progresso”, pontua.
A grande aposta do especialista para o futuro, porém, está nos jovens da atualidade. “Há líderes emergentes nas gerações X e Millenials que irão assumir lideranças das cidades, e acredito que a partir desses novos líderes, que são muito mais letrados em softwares e tecnologia, começaremos a ver transformações nas cidades”, comenta. “Isso é uma consequência natural das mudanças demográficas. Nem tudo se resolve por tecnologia, mas é um elemento muito importante para as cidades conectadas, porque através dela conseguimos programar e elaborar melhores prédios, sistemas de tráfego e chegar a problemas mais graves como a fome e a pobreza. E tudo isso começa com a educação e a imaginação.”

Arte Grupo Padrão (Giovana Sorroche)
+CIDADES INTELIGENTES
Brasil tem mais de 160 startups de desenvolvimento de cidades inteligentes
A Covid-19 abriu as comportas para as cidades inteligentes
Cidades inteligentes: país europeu quer ir além do conceito de Cidade de 15 minutos e chegar até 1 minuto; entenda
A robotização não vai substituir o trabalho humano: ela deve ser tratada como aliada