Empresas buscam ajudar usuários a superar vícios por meio de apps
Seja qual for o vício abordado, existe uma demanda crescente por esse tipo de solução, sobretudo pela facilidade oferecida pelos aplicativos e pelo seu baixo custo.
POR Marcelo Almeida | 19/11/2021 17h48Se existe algo que permeia todas as classes sociais e não discrimina sexo, raça, religião ou nada parecido é o vício. Seja nos casos mais graves, como o vício em drogas, como nos menos severos, mas que ainda sim provocam prejuízos significativos, como o consumismo, o tratamento desse tipo de condição geralmente ocorre com o acompanhamento de profissionais da saúde como psiquiatras e psicólogos.
No entanto, existe uma tendência atual de empresas que criam aplicativos para atacar esses vícios, ajudando a pessoa a controlá-los por meio de uma série de ferramentas.
Um desses aplicativos é o Remojo, que foca no vício em pornografia. A escolha não é aleatória, já que é muito mais fácil bloquear sites pornográficos, por exemplo, do que tentar evitar que uma pessoa viciada em drogas entre em contato com seu fornecedor local.
De qualquer forma, o app não se limita a bloquear sites pornográficos e toda e qualquer imagem e outros aplicativos que sejam considerados como um gatilho para a pornografia, oferecendo também outras ferramentas para mudar o “mindset” do usuário.
Para isso, o aplicativo oferece aulas e palestras para quebrar o que chamam de “fantasia”, permitindo que os usuários vejam a pornografia pelo que realmente é: uma forma de controlar a atenção das pessoas e deixá-las viciadas por meio de uma superestimulação de suas libidos para lucrar em cima disso.
Para o Remojo, existe uma exploração de alguns de nossos aspectos primitivos pela pornografia. Segundo um dos artigos publicados no site, a pornografia se sustenta por causa da ilusão de constante novidade oferecida por cada vídeo, como se o espectador estivesse tendo várias parceiras em seu inconsciente. Diante desse cenário, nossos instintos estariam programados para alcançar o orgasmo o mais rápido possível para potencializar a disseminação de nosso DNA em um contexto reprodutivo, proporcionando, além disso, que o usuário de pornografia fique pronto para realizar o processo de novo rapidamente, por estar agindo sob essa ilusão evolutiva de que se trata de uma situação real de procriação e disseminação genética, que afinal é o objetivo final de nossa existência de um ponto de vista mais biológico. Isso acabaria criando um círculo vicioso que acaba levando muitas pessoas a ficarem viciadas e a se masturbar inúmeras vezes por dia.
São oferecidas, no aplicativo, técnicas para aprender autocontrole, meditações guiadas para superar momentos de necessidade e um modo pânico que permite que você bloqueie seu telefone por determinado período.
Por fim, o app faz um monitoramento do tempo que a pessoa passou sem consumir pornografia, realizando comparações com os demais usuários para acentuar que a pessoa está há mais tempo sem consumir pornografia do que determinado percentual de usuários, por exemplo, registrando um histórico dos períodos de abstinência e registrando eventuais recaídas, além de permitir que ela interaja com uma comunidade de usuários anônimos para trocar experiências.
Vício em drogas
O Remojo, no entanto, não é o único aplicativo que tenta ajudar pessoas a se livrarem de seus vícios.
Outro aplicativo é o I Am Sober, (Eu Estou Sóbrio, na tradução para o português) que oferece ajuda para tentar superar o vício em substâncias entorpecentes.
Com uma avaliação muito boa dos usuários (4,9 pontos de um máximo de 5), o aplicativo permite que você faça um acompanhamento de há quanto tempo está sóbrio e dos benefícios que isso está gerando a você. Isso é possível após você indicar o quanto gastava diariamente com substâncias e quanto do seu dia acabava ficando comprometido ao redor do vício.
O app também encoraja os usuários a fazer promessas de que irá ficar sóbrio pelo menos naquele dia específico ou por períodos mais longos, oferecendo pacotes motivacionais com ensinamentos sobre autocontrole, disciplina e sobriedade em geral.
Além disso, também conta com uma comunidade de pessoas que interagem e relatam seus progressos, dificuldades e recaídas, que geralmente recebem mensagens de apoio ou conforto de outros membros.
Outro app do setor é o Pear reSET, que foi primeiro aplicativo aprovado pelo Departamento de Alimentos e Remédios (FDA, Food and Drug Administration) dos Estados Unidos para ajudar a tratar abuso de substâncias.
A terapia digital envolve um programa de 12 semanas que envolve check-ins regulares.
O aplicativo oferece uma série de lições para ajudar os usuários no processo de recuperação, sendo que eles podem completá-las nos seus próprios ritmos e fazer um teste depois para receber prêmios virtuais.
Pesquisa com 399 pacientes aponta que o aplicativo melhorou de forma significativa as chances de a pessoa ter sucesso no tratamento de seus vícios, com uma taxa de abstinência de 40,3% em comparação com 17,6% daqueles que não usaram o app.
Demanda crescente
Seja qual for o vício abordado, existe uma demanda significativa por esse tipo de solução (o app I am Sober divulga um total de 6,7 milhões de usuários e tem mais de 1 milhão de downloads na Google Play, enquanto o Remojo tem mais de 100 mil), sobretudo pela facilidade oferecida pelos aplicativos e pelo seu baixo custo.
Em geral, as empresas disponibilizam aplicativos do tipo “freemium”, ou seja, disponibilizam um app com ferramentas básicas de forma gratuita e, caso o usuário tenha interesse, pode pagar por uma versão com mais recursos.
O ponto forte desse modelo é que ele permite que o usuário conheça o produto na prática e de forma gratuita e, caso goste do que está sendo oferecido, vá atrás dos melhoramentos proporcionados por versões pagas.