O mercado de trabalho mudou: foi-se o tempo em que bastava terminar o Ensino Médio e cursar uma faculdade para conseguir um bom emprego. O avanço acelerado da tecnologia exige que os profissionais se atualizem constantemente para se manterem competitivos. Mas, se por um lado, a tecnologia criou essa necessidade, por outro, ela pode ser uma grande aliada no processo de educação contínua. É o que defende o professor e doutor José Cláudio Securato, fundador da escola de negócios Saint Paul e criador do conceito de “Educação Disruptiva”.
As bases da educação disruptiva
O acadêmico explica que as mudanças no processo de educação refletem, na realidade, uma mudança da sociedade. A Revolução Industrial aumentou o poder aquisitivo de uma parcela considerável da população, permitindo que um número sem precedentes de crianças passassem a ter acesso ao ensino. À medida que o mundo foi se tornando mais horizontalizado, o mesmo ocorreu com a educação.
O problema é que, apesar de mais acessível, o ensino, ainda hoje, se baseia em modelos hierárquicos bem definidos. “É uma escola padronizada, em que o ensino é seriado, regulado pelo tempo: alguém definiu que todos nós iríamos aprender fração em três meses, e basta tirar uma nota na prova acima da média da escola para ser aprovado. Todo mundo aprende igual, ao mesmo tempo, da mesma forma e a mesma coisa. Isso é típico de uma sociedade vertical”, diz José Cláudio, ao Whow!.
A ideia da educação disruptiva é justamente se adaptar a um novo modelo de sociedade, mais horizontal, múltipla, colaborativa e flexível.
José Cláudio explica que este modelo é a soma de três conceitos de educação com aplicação da disrupção.
Andragogia, que é o ensino voltado para adultos; o lifelong learning e a Heutagogia, que é o fato de o aluno ser programador do seu processo de aprendizado.
“O adulto aprende de forma diferente da criança: se ele não quiser aprender, não adianta. Então, ele precisa ter esse desejo e compreender qual o benefício que tem ao aprender alguma coisa. O segundo ponto importante é aprendizagem ao longo da vida. Ninguém sabe hoje o que precisa aprender, então você precisa aprender a aprender qualquer coisa. E o último tema que embasa a questão da educação disruptiva é a Heutagogia, ou seja, o processo de aprendizado passa a ser motivado pelo autodesenvolvimento”, detalha José Cláudio.

Foto Julia Cameron: Pexels
Inovação x disrupção
Apesar de serem comumente confundidos, o acadêmico explica que os conceitos de “inovação” e “disrupção” são diferentes. A ideia de disrupção foi ressignificada pelo professor Clayton Christensen, da Universidade de Harvard, e se baseia na transformação de um produto ou serviço caro, complexo, a que poucas pessoas têm acesso, em algo mais fácil de se acessar e mais barato.
“No conceito de educação disruptiva que eu desenvolvi, a gente democratiza a aprendizagem.”
José Cláudio Securato, fundador da escola de negócios Saint Paul
Uma das chaves para isso para isso é a tecnologia, especialmente a inteligência artificial. Na Saint Paul, a IA é utilizada de três maneiras. A primeira delas é um assistente virtual, o Paul, que consegue, por meio de perguntas, avaliar o nível de conhecimento do aluno sobre determinado assunto e indicar os tópicos aos quais ele deveria se dedicar mais, mantendo o conteúdo relevante para o adulto em questão.
A segunda aplicação de IA ajuda os alunos a como aprender: a tecnologia capta traços de personalidade do aluno e consegue orientá-lo sobre as melhores formas de absorver conteúdo, seja lendo, escrevendo, assistindo a um vídeo e etc. “Essa tecnologia já permitiu que nossos alunos economizassem mais de 40 mil horas em dois anos”, destaca o fundador da instituição. Por fim, o LIT, plataforma da Saint Paul, também utiliza IA para colher dados gerados pelos usuários e tratá-los, para devolver para cada aluno uma experiência de aprendizado mais personalizada.
O uso de tanta tecnologia para entregar um produto ou serviço ainda mais elaborado poderia, no fim das contas, torná-lo mais caro. Mas, com a disrupção, não é isso que acontece. “Um programa de MBA da Saint Paul custa aproximadamente R$ 40 mil. Se você quiser fazer um MBA no LIT, custa R$10 mil. Democratizou, não? A gente poderia ter feito toda essa inovação com IA, deixado os programas ainda melhores e cobrar mais por isso. Assim, poucas pessoas teriam acesso. Nossa ideia é justamente o contrário, e é isso que eu defendo: que as novas tecnologias permitam que a gente faça a disrupção na educação”, explica José Cláudio.
O CEO da Saint Paul também falou sobre as tendências para a educação no futuro e sobre a necessidade de o ensino se reinventar para que o país, as empresas e os brasileiros, enquanto indivíduos, prosperem. Clique aqui e leia a entrevista na íntegra.

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