Desafios da transição de carreira corporativa para o empreendedorismo
Segundo a empreendedora Ana Fontes, não basta replicar os ensinamentos da carreira tradicional para a jornada empreendedora
POR João Ortega | 22/10/2021 15h45Ana Fontes passou 18 anos trabalhando em uma grande empresa do setor automotivo. Entrou em uma das posições mais baixas na multinacional e pavimentou seu caminho até alcançar um cargo executivo. Com tanta experiência na bagagem, ela decidiu sair da empresa e empreender em seu próprio negócio. Moleza, não é? Muito pelo contrário.
Em 2007, Ana se viu esgotada da lógica das empresas multinacionais. “Tomei a decisão internamente de que queria sair naquele ano, e fui me preparando para aquela saída que só aconteceu em dezembro. Não foi de um dia para o outro”, diz. “Não tinha nenhuma clareza sobre o que fazer. Só sabia que queria construir alguma coisa que tivesse a ver com meu propósito”.
O mundo corporativo e o ecossistema de empreendedorismo são “bichos completamente diferentes”, diz ela. Lição esta que aprendeu na prática, quando saiu da multinacional, e decidiu fundar, com dois amigos como sócios, a empresa Elogie Aqui. Era um canal para que consumidores pudessem falar bem do atendimento das empresas como oposição ao Reclame Aqui.
“Meu primeiro salto de fé para o ambiente empreendedor foi cheio de erros. Fiz sociedade por amizade, não estava alinhado com esses sócios, criamos um negócio que não fazia sentido para o momento em que todo mundo falava de reclamação e não de elogio”, recorda Ana Fontes, em entrevista ao Whow! Vida Loka Podcast.
Cultura corporativa e empreendedorismo
O modelo de gestão do mundo corporativo imperou no mercado durante décadas. Com o recente protagonismo do empreendedorismo, evidente no ecossistema de startups, cresce o número de executivos que saem do universo tradicional para tentar o sucesso no novo. Porém, o conhecimento em um modelo não necessariamente pode ser replicado no outro.
“Há 14 anos, quando eu comecei a empreender, já falava que o mundo corporativo te desprepara para o empreendedorismo. É um ambiente super controlado, com processos, comitês, aprovação, tem dinheiro quase infinito. O drama é que as pessoas não se despem dessa estrutura toda para ir ao ambiente do empreendedorismo”, analisa Ana.
Depois de dois negócios sem sucesso, Ana Fontes criou a Rede Mulher Empreendedora, uma comunidade que fomenta o empreendedorismo e autonomia financeira de mulheres. Já bastante consolidada no mercado, e com a “casca” desenvolvida pelas empreitadas fracassadas, ela recorda de outras pessoas que fizeram a migração do ambiente corporativo para a jornada empreendedora sem fazer as mudanças culturais e de mentalidade que são necessárias.
“Conheço uma pessoa que era C-level em uma organização grande, e saiu para empreender no mercado de franquias, porque, na visão dele, não tem risco. Pagou R$ 1,3 milhão na franquia, estava super empolgado para mostrar para a família que tinha um negócio dele, que era um empreendedor de sucesso”, revela. “Resumindo uma história longa, ele fechou o negócio em 13 meses porque não tinha nenhuma experiência na área, não ouvia as pessoas, foi extremamente arrogante porque acreditava que ser ‘fodão’ e entender de tudo no ambiente corporativo era suficiente. Não basta pegar os ensinamentos da carreira tradicional e transportar para o empreendedorismo”.
Quer saber mais sobre as barreiras do empreendedorismo e a jornada de Ana Fontes? Assista ao episódio #28 do Whow! Vida Loka Podcast abaixo: