A pandemia trouxe anos de avanço em transformações digitais em apenas alguns meses. O consumidor, e o mercado, estão cada vez mais digitalizados: só na América Latina, 37% dos consumidores já utilizam o recurso de voz para interagir com os dispositivos digitais, e 86% dos clientes acreditam que essa ferramenta agiliza as interações.
Mas surge o questionamento: será que esse comando de voz dá, verdadeiramente, o controle ao usuário? Ao se delegar todas as atribuições mais repetitivas do dia a dia para as máquinas, há um futuro onde elas poderão ser capazes de substituir atividades complexas e criativas dos seres humanos?
O painel “A Robotização da Vida versus A Conexão Com O Que Nos Faz Humanos”, do Whow! Festival de Inovação 2020 uniu especialistas para debater este assunto. Ele contou com a participação de Marília Lobo, diretor de Estratégia e Inovação na Berlin School e colunista no Whow!, Reinaldo Sima, diretor de tecnologia e transformação digital na MRV Engenharia, Laila Costa, business strategy na Robbyson e Alexandre Cezilla, head de Digital na Suzano.
A verdadeira função dos robôs
Ao contrário da concepção popular, os robôs não surgem dentro do mercado empresarial para substituir a mão de obra humana. Eles entram como um adendo para dinamizar processos engessados e mecanizados que não são atrativos às pessoas. “Ninguém gosta de fazer trabalhos repetitivos, mas robôs gostam. Quantas coisas iguais ocorrem em um processo de atendimento com muitas pessoas? Esse é um momento maravilhoso para utilizar os robôs como ferramenta ampla de observação, usando os dados coletados por eles e analisando-os sob uma perspectiva que somente os humanos conseguem fazer”, conta Laila.
Reinaldo Sima complementa a ideia e explica a funcionalidade dos novos robôs: “Eles não vieram para substituir os humanos. As pessoas viram seus trabalhos ressignificados, agora são responsáveis por analisar essa tecnologia que atende a clientes de maneira mais rápida e eficiente”.
O que nos faz humanos?
O isolamento social impostos pela covid-19 foram, sem dúvida, um acelerador da tecnologia mundial. “Durante a pandemia nós aprendemos que muitas coisas que não poderiam ser feitas digitalmente foram realizadas e, às vezes, de forma muito melhor”, diz Marília.
Porém, a pandemia também trouxe novas visões sobre as interações humanas: ela nos fez perceber que, mesmo isolados dentro de casa, o ser humano é comunicativo por natureza. A conversação faz parte de quem somos, e essa comunicação é uma das principais características que nos distingue dos robôs. Para Alexandre, a humanidade possui características impossíveis de serem copiadas: “O que é um ser humano? Temos questões que não podem ser copiadas: valores, crenças e sabedoria. Podemos hoje usar a tecnologia com autoconsciência para nos tornarmos mais produtivos e contribuirmos mais para a sociedade. A tecnologia é usada como um meio, não como um fim.”
Em nome da inovação, precisamos estar constantemente dispostos a abrir os olhos para novas oportunidades. Encarar o avanço da tecnologia, e a consequente robotização de processos, como uma ameaça ao futuro da humanidade, é uma visão já retrógrada. Hoje, a tecnologia atua como nossa maior aliada para inovar em processos e produtos.
“Devemos estar abertos a quebrar barreiras naturais da sociedade para nos tornarmos mais receptivos à mudanças”, finaliza a gestora de business strategy na Robbyson.
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