Twitter e Facebook, assim como outras grandes empresas, anunciaram que vão permitir o home office até o fim do ano ou para sempre, em alguns casos. As multinacionais se adaptaram tão bem ao modelo de trabalho remoto que resolveram conceder essa comodidade aos seus funcionários por mais tempo. Mas não são apenas as grandes empresas que tomaram essa decisão. Algumas startups estão indo pelo mesmo caminho.
Aliás, um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que a migração do trabalho presencial para o home office poderá ser adotada em 22,7% das ocupações no Brasil, alcançando mais de 20 milhões de pessoas. Isso colocaria o país na 45ª posição mundial e no 2º lugar no ranking de trabalho remoto na América Latina.
Conheça algumas startups que estenderam o home office e as impressões de seus executivos sobre esse modelo de trabalho.
A startup de Curitiba que tem 143 funcionários ampliou o home office até o fim do ano por dois motivos: estabilidade e a saúde das pessoas. Rafael Carvalho, COO e cofundador da HeroSpark, explicou ao Whow!.
“Nós temos muitos colaboradores que não são de Curitiba, então moram aqui dividindo aluguel, alugando carro, etc. E aí, em um primeiro momento ficaríamos em home office por 15 dias, depois resolvemos ficar por 30 dias e isso foi se repetindo. Dessa forma, a galera nunca sabia se poderia ir para casa, devolver o carro alugado, etc. Vai que é preciso voltar para a empresa na semana que vem? Então, pensando na estabilidade, demos uma previsão de seis meses em home office. Com isso, muita gente voltou para a sua cidade natal e está com seus familiares.”
Em relação ao segundo aspecto, a saúde, Carvalho diz que enquanto não houver vacina, “não vamos estar 100% seguros”. “Imagine se a gente pede para os nossos colaboradores voltarem para o escritório e um deles fala ‘eu não posso, pois moro com a minha avó de 80 anos e ela é grupo de risco’. E aí, vamos fazer o quê? Pensando em tudo isso, acreditamos que a melhor solução é todo mundo continuar em home office até o final do ano, pelo menos.”
Carvalho diz que, no geral, a equipe se adaptou bem ao modelo home office. “Em nenhum setor houve perda de desempenho por estarmos trabalhando de forma remota. Logo, funcionou muito. No entanto, a gente sente falta daquele contato, sabe? Com todos trabalhando de casa nós perdemos aquelas reuniões diárias, aquela coisa de estar sentado frente à frente com o seu companheiro de equipe e, querendo ou não, isso é muito importante”, disse.
Por conta disso, para o futuro, o empreendedor pensa em um modelo híbrido. “Vai funcionar como um coworking. A HeroSpark vai ter um ambiente com várias salas de reuniões e algumas estações de trabalho. Então, por exemplo, o time de marketing precisa fazer um planejamento para os próximos meses, aí eles podem se reunir nessas salas de reunião para debater. Mas seremos bem flexíveis. Se a pessoa quiser trabalhar de casa e ir para o escritório uma vez por semana, tudo bem. Se quiser ir a cada 15 dias, está ok também. Para os nossos colaboradores que não são de Curitiba, eles podem vir uma vez por mês ou a cada dois meses. Isso aí vai ficar bem livre”, comentou.
Carvalho disse que as estações de trabalho não terão lugar definido, então a pessoa vai chegar e escolher onde sentar.
Ao adotar o home office por conta da pandemia, não foi preciso fazer muitas adaptações. “Nós já tínhamos plataformas digitais, sempre guardamos dados na nuvem, usamos ferramentas e sistema digitais, então não precisamos implementar nenhuma ferramenta nova para ir para o home office”, explicou. A principal adaptação foi no modelo de gestão de alguns times, como sucesso do cliente e vendas. “Eram dois times que tinham um modelo de cultura e gestão muito presencial, com o vendedor levantando a mão para tirar uma dúvida com o coordenador, conversando com os amigos do lado. Então, nesses pontos, nós tivemos que fazer algumas adaptações.” Entre elas, a intensificação da ferramenta de comunicação Slack e a criação de salas no Hangouts. “Essas salas ficam ligadas o dia inteiro, então todos do time ficam online e conversando o tempo inteiro.”

Foto Alessio Alionço, fundador e CEO da Pipefy (Eduardo Macarios)
A empresa de SaaS (Software as a Service) que tem 250 funcionários ampliou o home office até o fim do ano. Alessio Alionço, CEO e fundador da startup, explica que a decisão foi tomada pela segurança e saúde dos colaboradores. “Independentemente do fim do decreto, todos os nossos funcionários ficarão em home office até o final de 2020. Depois avaliaremos a possibilidade de cada funcionário escolher se quer voltar para o escritório ou seguir no home office”, afirmou ao Whow!.
Ele diz que a empresa está direcionando esforços e investimentos para garantir que a experiência de trabalho dos funcionários em casa seja tão confortável e adequada como era no escritório. “Fornecemos uma ajuda de custo desde março para gastos com infraestrutura e adaptações, além de suporte psicológico profissional e atividades para cuidar da saúde mental e física como meditação e práticas de yoga.”
A liderança da empresa vem acompanhando com bastante cuidado os indicadores relacionados à produtividade e à performance e tem visto resultados extremamente positivos. “Não tivemos casos de áreas em que a produtividade caiu e, em muitas delas, tivemos inclusive melhorias nesse aspecto”, comentou o empreendedor.
A startup focada no aluguel de imóveis adotou o home office para todo o time pouco antes do início da quarentena, em 13 de março, “para proteger nossos colaboradores e contribuir com o controle da pandemia”, disse José Osse, head de comunicação do QuintoAndar, ao Whow!. Depois, a medida foi estendida até o fim do ano. “Como a situação ainda não se estabilizou e estamos funcionando bem com o trabalho remoto, decidimos continuar em casa até o final do ano para manter todo mundo protegido.”
A medida contempla os cerca de mil colaboradores diretos em São Paulo e Campinas.
Recentemente, a empresa anunciou a adoção do home office como alternativa definitiva para todos os funcionários que preferirem esse modelo. “Vamos manter os escritórios, mas a ideia é que os campus do QuintoAndar sejam polos para reuniões, eventos e treinamentos, além de base para quem preferir trabalhar presencialmente”, revelou Osse. Segundo ele, a equipe receberá ajuda de custo mensal para cobrir gastos com internet e terá reembolso na compra de periféricos necessários para apoiar o trabalho de casa.
O executivo conta que foi necessário adaptar alguns processos para o modelo de home office. “Tivemos que nos acostumar com formas diferentes de trabalhar, como no caso das reuniões, que passaram a ser todas online. Mas a gente percorreu muito rápido essa curva de aprendizado”, afirma. “Nós aprendemos bastante com esse período em home office e percebemos que é possível manter e melhorar o nível de entrega, eficiência e qualidade do time mesmo a distância.”
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