A questão “saúde” é um dos grandes desafios para o Brasil. Não por acaso, no primeiro dia do Whow! Festival de Inovação, esse assunto foi debatido. No painel “Saúde 360: ideias para reduzir as lacunas e aprimorar a fluidez do sistema de saúde”, os executivos e executivas Ana Cláudia Pinto, diretora de Produtos e Soluções Digitais da ShareCare Brasil, Paula Campoy, diretora-executiva da Informar Saúde, Ricardo Franco, CEO da Bella Materna, Matheus Silva, CEO da Cuidas e Jeane Tsutsui, diretora-executiva de Negócios do Fleury, apresentaram as empresas em que atuam e trouxeram visões sobre a ressignificação do mercado de saúde.
Apesar de não ter começado a atuar desde jovem no segmento de saúde, Franco conta que percebeu – com a sua família, inclusive – a necessidade de criar uma rede de informação positiva para as mães.
A Cuidas, por sua vez, foi cofundada por um engenheiro químico. No bate-papo, o CEO da empresa revela que ela nasceu para gerar soluções para outras corporações, substituindo as parcerias com planos de saúde.

Foto Douglas Luccena
“Uma das grandes vantagens de estarmos em 2019 é a tecnologia”, afirma Silva. “Temos um modelo interconectado hoje e, na minha visão, Saúde 360 é poder ser cuidado por todos os meios disponíveis, em todos os momentos, colocando a vida no centro da discussão, não o médico ou o paciente”.
“Saúde 360 é poder ser cuidado por todos os meios disponíveis, em todos os momentos, colocando a vida no centro da discussão, não o médico ou o paciente”
Matheus Silva, CEO da Cuidas
Paula, por sua vez, aponta que cada vez mais há o inter-relacionamento entre players de saúde, o que torna o sistema muito complexo. “Como eu conecto todos em prol da vida?”, questiona. “Não queremos cuidar de quem está doente, mas ter uma atuação proativa, de longo prazo, priorizando a vida independentemente da jornada que ele esteja vivendo”.
Franco defende que os processos de saúde no Brasil são “cartoriais”, ou seja, burocráticos. Ele acredita que é preciso eliminar processos, equalizando o acesso a saúde. Jeane concorda com a ideia de cuidar da vida antes da doença. “É preciso se voltar para questões de saúde”, diz. Para a mediadora e executiva da Sharecare, a tecnologia coloca o processo dentro da realidade e nas mãos das pessoas.

Foto Sara Bakhshi / Unsplash
Inovação para quem?
O CEO da Bella Materna revela que quem vem de fora da saúde tem a impressão de que há uma corrida pela inovação, mas nem sempre com o pensamento no consumidor. “Colocamos uma pessoa em contato com outra pessoa capaz de explicar o que o Google não consegue, inclusive reconhecendo ansiedades e necessidades dos seres humanos”, afirma.
“Colocamos uma pessoa em contato com outra pessoa capaz de explicar o que o Google não consegue, inclusive reconhecendo ansiedades e necessidades dos seres humanos”
Ricardo Franco, CEO da Bella Materna
Paula defende que é preciso saber quais perguntas de negócios precisam ser respondidas pelos dados e pela tecnologia. “Temos que ter clareza do que precisamos”, defende. Ou seja, a tecnologia é uma forma de conhecer o cliente, mapear jornadas e entender o que melhorar.
Jeane acredita que a tecnologia ajuda a mudar o sistema de saúde, com medicina de precisão, ajudando a determinar um tratamento para um único indivíduo. “Precisamos ter uma visão do que agrega valor para o indivíduo e usar adequadamente recursos com essa visão”, diz.
Ana Cláudia, por sua vez, entende que o Big Data ajuda a responder perguntas – mas é preciso saber questionar. “É preciso que haja um critério, atendendo a necessidades humanas”, afirma.
Na Cuidas, o sentimento é de que o contexto brasileiro é complexo: a maioria dos dados ainda é em papel, exceto em alguns poucos clusters. “Antes de falar de IA, Big Data, Machine Learning, há etapas básicas que precisam ser estruturadas”, afirma Silva. Portanto, a empresa olha para isso com parcimônia.

Foto Marcelo Leal / Unsplash
A reestruturação e qualificação dos dados foi uma preocupação da Informar Saúde. A partir disso, Paula acredita que é preciso fazer as perguntas certas e obter insights. “Por onde passamos deixamos rastros digitais que espelham nossos comportamentos”, afirma. “Passamos a usar canais de tecnologia para solicitar serviços básicos, independentemente de ser ou não um ser superconectado”. Porém, os dados desintegrados fazem com que o engajamento por meio de dados seja restrito.
Como exemplo, Paula cita o Alzheimer, que tende a crescer junto com o envelhecimento da população. E será necessário criar soluções tanto para o paciente quanto para quem cuida dele – e nem sempre é um profissional. Ao mesmo tempo, ela destaca a capacidade de previsão, que tende a crescer. Jeane, por sua vez, crê que é preciso ser cuidadoso no uso de IA e revela que o Fleury já tem produtos que usam machine learning para cruzar informações, testar diagnósticos em oncologia. “A IA não vai substituir o médico, mas o médico que usa IA vai substituir o que não usa”, diz.
“A IA não vai substituir o médico, mas o médico que usa IA vai substituir o que não usa”
Paula Campoy, diretora-executiva da Informar Saúde
Paula afirma que o contexto atual obriga as pessoas a inovar. “É preciso se reinventar, buscando resolutividade para as pessoas”, diz. “Precisamos pensar no resultado efetivo e cada vez mais mudar a forma como trabalhamos, inclusive a forma como nos relacionamos”. Nesse sentido, defende que o dado, por si só, não soluciona nada. “Não podemos ter uma visão fracionada do cliente, pois todos são seres inteiros”.
Jeane diz que é preciso oferecer saúde de mais qualidade e em um preço menor. “Se não atuarmos de forma conjunta, todo o sistema vai afundar”, afirma. Nesse sentido, aponta que o cliente gosta de tecnologia e há muitas opções para buscar um desfecho positivo para a experiência no setor de saúde.
