O ciclo de vida de um produto, algo tão falado no ambiente corporativo, começou na gente e vale para a gente. Foi com essa provocação que Luiz Fernando Garcia, sócio da NEXTT 49+ Inovação em Negócios, começou o painel do Whow! Festival de Inovação 2020 sobre envelhecer de forma positiva e longevidade.
Hoje, segundo dados apresentados por ele, a população idosa no Brasil é composta por 54 milhões de pessoas, que são responsáveis por 30 milhões de lares e movimentam R$ 1 trilhão. “Mais do que dinheiro, são pessoas”, pontua.
A discussão do painel transcorreu sobre o que é envelhecer.
Fernanda Hermanny, diretora de marketing da Kimberly-Clark e responsável por produtos para a terceira idade, afirma que não tem como desvincular o envelhecimento da vida. “A gente nasce envelhecendo, é um processo absolutamente natural, que todos nós vamos passar, tem seus desafios e vantagens também”, diz.
Segundo ela, uma forma positiva de alcançar isso passa pelo autoconhecimento emocional e físico, porque as transformações são muitas, e o autocuidado, com alguma atividade física e se relacionar bem com amigos e família. “Isso tudo é muito importante”, destaca.
O que influencia na longevidade
Ela lembra que hoje em dia, falando do que tange a inovação e o mundo corporativo, existe uma gama de recursos, produtos e tecnologias que ajudam a população nos processos de autoconhecimento, autocuidado e envelhecimento. “Nosso papel é oferecer produtos que possam ajudar as pessoas a lidarem melhor com seu processo de envelhecimento”, diz.
Flavia Morizono, diretora de planejamento e operações da Joia Eventos Estratégicos, diz que, ao procurar no dicionário, percebeu que o significado de envelhecimento é ficar velho. “Idoso é ficar velho. Velho é antiquado e obsoleto. Por que as pessoas se preocupam tanto com o envelhecimento? Porque não queremos ficar antiquadas e obsoletas”, afirma. “Eu sou contra esse significado e, ao olhar ao meu redor, sempre tive conexão com as pessoas mais velhas.”
Ela cita o pediatra dos seus filhos, que tem 80 anos, as pessoas de sua academia, que são mais velhas, e o grupo de corrida de rua do qual ela participa, que é liderado por um maratonista de 74 anos. “Quem é obsoleto?”, provoca. “Se a gente estiver bem, o envelhecimento não será antiquado e obsoleto.”
O cardiologista Sergio Lotze, diretor-executivo de expansão da Prevent Senior, plano de saúde voltado para pessoas mais velhas, diz que se orgulha dos cabelos brancos que já aparecem em sua barba e na cabeça. “Isso me dá uma alegria enorme”, comenta. “O envelhecimento para nós, da Prevent Senior, não é algo invisível, é algo que nos deparamos todo dia.”
Ele lembra que a empresa surgiu para incluir o idoso na saúde suplementar: “Acredito que o envelhecimento é um processo de viver e quem chega ali são as pessoas mais fortes, talvez por sua genética ou por suas escolhas.”
O médico diz que a literatura insiste em colocar idade para definir o envelhecimento, mas afirma que isso não faz sentido. “Tem que levar em conta aspecto físico e social, além do espiritual. São três fatores que influenciam na longevidade”, diz. “E o planejamento faz toda a diferença nesses três aspectos.”
Isso porque, para se propor a planejar, a pessoa precisa se identificar em que momento está e isso se correlaciona aonde ela vai chegar.
Para ele, mais do que ligado à idade, o envelhecimento está relacionado a perda de algum dos cinco sentidos. “Me dou conta que estou ficando velho quando uso óculos, tenho cabelo branco, não consigo mais jogar bola o jogo inteiro”, exemplifica. “Esses mecanismos fazem a gente reconhecer que o processo chegou. Mas, na verdade, o processo começa quando nascemos.”
Envelhecer bem, na visão dele, passa por manter nossas conexões sociais e familiares.
“Isoladamente envelhecemos mais rapidamente.”
Sergio Lotze, cardiologista e diretor-executivo de expansão da Prevent Senior
Ele também cita o papel da espiritualidade:. “Inúmeros trabalhos mostram que acreditar em algo invisível, espiritual, também influencia no envelhecimento, Quem acredita em algo, essa esperança tem relação com longevidade e regeneração celular.”
Os diferentes aspectos ao envelhecer
Walter Alves, consultor social sobre diversidade e inclusão de pessoas 50+ no trabalho, vai além. “Uma das coisas mais importantes a ser demarcada é que todo ser vivo envelhece”, afirma. “Nossa condição orgânica nos empurra para o envelhecimento, é inevitável. Mas envelhecemos de forma individual e singular.”
Ele menciona algumas soluções que permitem às pessoas viverem mais, como os medicamentos, as novas condições de vida e a diminuição de mortes violentas. “Isso permite a revolução da longevidade”, diz.
Mas, segundo o consultor, não podemos usar a palavra envelhecimento no singular.
“Eu acho que há envelhecimentos, pois eles não acontecem da mesma forma para todas as pessoas, depende de gênero, condição física, local de moradia, estilo de vida. Ao colocar a palavra no plural, isso nos ajuda a enxergar mais as pessoas e tira as pessoas de uma caixinha.”
Walter Alves, consultor social sobre diversidade e inclusão de pessoas 50+ no trabalho
Ele cita que, se olharmos o mapa da desigualdade na cidade de São Paulo, a maior expectativa de vida está em Moema, 81 anos, e no Jardim Paulista, com 80 anos. “São bairros muito bons, com infraestrutura e segurança, que propiciam excelente qualidade de vida”, diz. Quando olhamos as menores expectativas de vida, elas estão no Grajaú, 59 anos, e na Cidade Tiradentes, com 57 anos. “São bairros periféricos.”
Walter vai além e diz que não podemos falar de envelhecimento sem falar na pandemia. “Em Moema e no Jardim Paulista, houve 130 mortes por Covid-19. No Grajaú e em Cidade Tiradentes, 460”, diz. “Por isso a gente não pode mais trabalhar com esse conceito de envelhecimento, tem que trabalhar com envelhecimentos para olhar para essas diferenças que se estabelecem.”
Envelhecimento, na visão do consultor, assim como na do cardiologista, não pode ser dado pela idade. “Precisa entender que o envelhecimento não se dá aos 60, 70 ou 80. Ele vai se dar quando a pessoa se torna dependente, se ela não tem mais autonomia, aí sim ela é uma pessoa que tem que ser olhada. Ao contrário, tá todo mundo vivendo. Tem um senhor de 74 anos correndo uma maratona. Eu jamais teria condições de fazer isso, e tenho 62. Quem é mais velho?
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